quarta-feira, 2 de maio de 2012

Referencial teórico 9º ano

Queridos alunos,

Por favor, imprimam e estudem o referencial para a prova. Ele será trabalhado em sala.


REFERENCIAL TEÓRICO – 9º ANO

GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO

1 – Origens:

            Todos os povos têm suas narrativas e, apesar de haver uma variação na forma como elas são organizadas e transmitidas, o fato é que contar histórias parece uma atividade própria da natureza humana.
Durante muitos séculos, a produção literária realizava-se predominantemente em versos, sendo as histórias contadas por meio de poemas épicos ou epopeias.  As epopeias são textos em versos nos quais são narrados fatos heroicos de cunho nacionalista. As obras épicas consideradas mais importantes para a literatura ocidental são A Ilíada e Odisseia, cuja autoria é atribuída a Homero (séc. VIII) a.C. Um grande exemplo em língua portuguesa é Os Lusiadas, de Camões, obra que tem como ação central a descoberta do caminho das Índias por Vasco da Gama, permeada por vários episódios da história de Portugal, sempre glorificando o povo português.
A partir do final do séc. XVIII, com a criação do romance, a tarefa de contar histórias passou a ser desempenhada por essa nova espécie, como também pelo conto, pela novela, dentre outras. Devido a isso ocorre a dupla denominação do gênero: épico, fazendo referência à origem histórica; narrativo, referindo-se à evolução da criação literária.
As narrativas de ficção apresentam histórias contadas a partir da invenção imaginativa do autor, que lança mão de elementos como o enredo, o narrador, as personagens, o tempo e o espaço. Nessas narrativas, predominantemente organizadas em prosa, é o caráter do herói que o define, e não mais a glorificação pelas conquistas pátrias.

Nesta etapa estudaremos especificamente os elementos enredo e foco narrativo das narrativas de ficção. Além disso, identificaremos as possíveis definições e características da Crônica, espécie do gênero narrativo.


2 - Enredo:


O enredo ou trama de um texto é a história propriamente dita, aquilo que é apresentado ao leitor. Trata-se do arranjo sucessivo dos acontecimentos. Ele pode ser linear – em que a ordem dos acontecimentos é respeitada – , ou não linear – em que ocorrem idas e vindas em ralação ao tempo e ao espaço.
Quanto ao assunto básico, a narrativa de ficção pode apresentar os mais variados temas, como o amor, viagens, ficção científica, dentre outros.
Em relação ao ritmo, o enredo transcorrerá à medida que as situações forem se modificando, podendo sofrer interferências pela inclusão de descrições (de espaços, objetos e personagens) e digressões (reflexões, diálogos com o leitor, opiniões, considerações filosóficas, por exemplo).
É fundamental compreender que a essência da narrativa de ficção é a lógica interna do enredo. Os fatos de uma história não precisam ser verdadeiros, no sentido de corresponderem exatamente a fatos ocorridos no universo exterior ao texto, mas devem ser verossímeis; isto quer dizer que, mesmo sendo inventados, o leitor deve acreditar no que lê. Esta credibilidade é alcançada através da organização lógica dos fatos no enredo. Cada fato da história tem uma motivação (causa), nunca é gratuito e sua ocorrência desencadeia novos fatos (consequência).

            Para compreender a estrutura de uma narrativa, não basta identificar o seu início, meio e fim; é fundamental compreender o seu elemento estruturador: o conflito, em torno do qual todos os acontecimentos transcorrem. O conflito é qualquer componente da história (personagem, fatos, ambiente, ideias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e prende a atenção do leitor.
           



Nas narrativas tradicionais, é o conflito que determina as partes constituintes do enredo, que são:

·         situação inicial ou apresentação: parte que situa o leitor diante da história que irá ler;
·         complicação: parte em que se desenvolve o conflito (ou conflitos);
·         clímax: ponto máximo da tensão narrativa;
·         desfecho ou desenlace: solução dos conflitos.

Para melhor compreender os elementos constituintes do enredo, analisemos o texto seguinte:




Tragédia brasileira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
                                                                                                                                                  Manuel Bandeira


IMPORTANTE: É fundamental ressaltar que nem todas as narrativas de ficção apresentam essa estrutura. Há textos cujo desfecho aparece no início da narrativa, como há outros em que o desfecho fica por conta do leitor. O romance moderno, por exemplo, caracteriza-se, muitas vezes por um desfecho “aberto”, que não propõe uma solução clara para a história. Vejamos, por exemplo, o final deste romance de Clarice Lispector:


            A madrugada se abria em luz vacilante. Para Lóri a atmosfera era de milagre. Ela havia atingido o impossível de si mesma. Então ela disse, porque sentia que Ulisses estava de novo preso à dor de existir:
            — Meu amor, você não acredita no Deus porque nos erramos ao humanizá-lo. Nos O humanizamos porque não O entendemos, então não deu certo. Tenho certeza de que ele não é humano. Mas embora não sendo humano, no entanto, Ele às vezes nos diviniza. Você pensa que —
            — Eu penso, interrompeu o homem e sua voz estava lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor, eu penso o seguinte:
                                                                         (Clarice Lispector – Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)




3 – Ponto de vista ou foco narrativo:

As histórias são contadas a partir do ponto de vista de um narrador, ser fictício construído a partir das palavras e que, portando, não deve ser confundido com o autor, “pessoa de carne e osso”.

Há duas formas básicas de se narrar uma história: em primeira pessoa ou em terceira pessoa.

3.1 – Narração em primeira pessoa: o narrador pode ser o protagonista ou um personagem secundário da história. Vejamos o exemplo:

Não, não, a minha memória não é boa. Ao contrário, é comparável a alguém que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras nem nomes, e somente raras circunstancias. A quem passe a vida na mesma casa de família, com os seus eternos móveis e costumes, pessoas e afeições, é que se lhe grava tudo pela continuidade e repetição. Como eu invejo os que não esqueceram a cor das primeiras calças que vestiram! Eu não atino com a das que enfiei ontem.
                                                                                                                      ASSIS, Machado de. Dom Casmurro


3.2 – Narração em terceira pessoa: o narrador pode ser onisciente ou observador.

A – Narrador onisciente: conhece tudo sobre os fatos e as personagens (seus sentimentos, pensamentos e segredos). Vejamos o exemplo:

A meia rua, acudiu à memória de Rubião a farmácia: voltou para trás, subindo contra o vento, que lhe dava de cara, mas ao fim de vinte passos, varreu-lhe a ideia da cabeça, adeus farmácia adeus, pouso!
                                                                                                                                         ASSIS, Machado de. Quincas Borba
                                                                                                                                                     
B – Narrador observador: domina os fatos, mas não “invade” o interior das personagens, contando apenas suas ações e comportamentos visíveis. Vejamos o exemplo:

O homem e a moça, na verdade, conversavam pouco durante aqueles almoços de verão. Depois do café o homem voltava para o pequeno estúdio nos fundos da casa, e às vezes a moça ia com ele. Ouviam música e conversavam, e então a moça voltava para a varanda do andar de cima em busca do sol do meio da tarde.
                                                                                           NEPOMUCENO, Eric. “As três estações”. In Coisas do mundo.


4 – Crônica
·         A crônica é inicialmente escrita para ser publicada em jornais e revistas, dirigindo-se a leitores geralmente apressados.
·         Quanto à temática, de modo geral, o cronista extrai do cotidiano o assunto para seus textos, em função do caráter circunstancial da crônica; transformando os pequenos acontecimentos do dia-a-dia em motivo para reflexão.
·         A linguagem da crônica e sua sintaxe são dinâmicas, em tom de reportagem, sem perder, porém, o seu caráter literário.
·         O narrador-repórter se identifica mais com o próprio autor que, via de regra, emite comentários pessoais sobre o assunto tratado. Portanto, há, na crônica, geralmente, a presença da dissertação.
·         Essas características da crônica conferem a essa espécie narrativa grande dinamicidade, alto poder de comunicação, dotando-lhe de grande capacidade de adaptação ao ritmo da vida contemporânea.

Observação: Leiam a parte denominada “Quero mais”, no final da obra Acontece na cidade, de vários autores. Lá vocês encontrarão importantes informações sobre as crônicas.

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