segunda-feira, 23 de abril de 2012

Referencia teórico - 8º ano (2ª etapa)

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O Gênero Épico

Origens e características:

    Todos os povos têm suas narrativas e, apesar de haver uma variação na forma como elas são organizadas e transmitidas, o fato é que contar histórias parece uma atividade própria da natureza humana.
   Durante muitos séculos, a produção literária realizava-se predominantemente em versos, sendo as histórias contadas por meio de poemas épicos ou epopeias.  As epopeias são textos em versos nos quais são narrados fatos heroicos de cunho nacionalista. As obras épicas consideradas mais importantes para a literatura ocidental são A Ilíada e Odisseia, cuja autoria é atribuída a Homero (séc. VIII) a.C. Um grande exemplo em língua portuguesa é Os Lusíadas, de Camões, obra que tem como ação central a descoberta do caminho das Índias por Vasco da Gama, permeada por vários episódios da história de Portugal, sempre glorificando o povo português.
   A partir do final do séc. XVIII, com a criação do romance, a tarefa de contar histórias passou a ser desempenhada por essa nova espécie, como também pelo conto, pela novela, dentre outras. Devido a isso ocorre a dupla denominação do gênero: épico, fazendo referência à origem histórica; narrativo, referindo-se à evolução da criação literária.
   As narrativas de ficção apresentam histórias contadas a partir da invenção imaginativa do autor, que lança mão de elementos como o enredo, o narrador, as personagens, o tempo e o espaço. Nessas narrativas, predominantemente organizadas em prosa, é o caráter do herói que o define, e não mais a glorificação pelas conquistas pátrias, como acontecia nas epopeias.
   Nesta etapa estudaremos a espécie narrativa conto, mais especificamente, o conto fantástico, levando em conta sua estrutura e características, informações que nos servirão de base para a análise dos contos da obra Histórias fantásticas, de vários autores.

O conto

   O conto é uma espécie do gênero narrativo, geralmente curta, cujo enredo gira em torno da solução de um conflito próximo de seu desfecho, as personagens são apresentadas brevemente e vivenciam situações decisivas. Não é a brevidade a marca principal de um conto, mas as características que o definem como uma experiência singular, marcante, única. Uma experiência que envolve de tal maneira o leitor, que ele pode perceber claramente a abertura do pequeno para o grande, do individual para o universal, sentindo a tensão, o perfeito equilíbrio entre as partes integrantes da narração: a apresentação, o conflito, o clímax e o desfecho.
   Apesar de ter se originado provavelmente por volta de 4000 a.C (contos mágicos ou contos egípcios - orais), foi no século XIV que o conto se afirmou como uma categoria estética, passando da oralidade ao registro escrito. O apogeu da espécie, contudo, ocorreu no século XIX, quando passou a ser reconhecido como “nobre”, literariamente, e começou a ser largamente produzido. Tem-se, então a origem do conto moderno, apresentando a estrutura que hoje o caracteriza: uma narrativa geralmente curta que condensa e potencia todas as possibilidades da ficção. Quanto aos temas, os contos são classificados em maravilhoso, fantástico, de terror, mistério, ficção científica, policial, moderno, contemporâneo, tradicional, dentre outros.
   Dentre os mais importantes contistas brasileiros estão: Machado de Assis, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca e Clarice Lispector.

   São características do conto:

• Unidade de ação: uma só situação importante centraliza a narrativa e envolve as personagens.
• Unidade de tempo: a história se passa em curto período de tempo.
• Unidade de espaço: o lugar por onde circulam as personagens é de âmbito restrito.
• Presença de poucas personagens.
• Quanto à linguagem, há o predomínio da narração. O discurso das personagens (discurso direto, indireto                 e indireto livre) muitas vezes assume relevância. A descrição e a dissertação tendem a anular-se.      

O conto fantástico

   O conto fantástico é aquele capaz de provocar o medo do desconhecido no leitor. Este, durante a leitura, se vê envolvido num universo imaginário, povoado por fantasias, terror, suspense e acontecimentos estranhos e sobrenaturais, sem, no entanto, perder a noção da realidade. Segundo Tzevetan Todorov, a literatura fantástica provoca, no espírito do leitor, uma dúvida insolúvel entre uma explicação natural e outra sobrenatural para os estranhos fatos narrados.
   Nesses contos não são seguidas as convenções pré-estabelecidas do “final feliz”, das “virtudes e recompensas” ou da “didática moral”, mas são apresentados e interpretados os acontecimentos e sensações, independentemente de serem bons, atrativos e estimulantes ou ruins, repulsivos e depressivos.
   Sobre a estrutura do conto fantástico, é fundamental que ele apresente uma exposição sobre o tema e a construção de atmosferas bem elaboradas com a função de envolver o leitor de um modo bastante singular e conduzi-lo ao clímax de forma gradativa.
   É importante ressaltar que no conto fantástico é bastante evidenciado a relação autor-obra-leitor, uma vez que não há uma interpretação incontestável do enredo, cabendo ao leitor, a partir de seu diálogo com a obra, buscar uma explicação para as histórias contadas, ou mesmo aceitar a ausência de uma explicação plausível.
   Na obra histórias fantásticas, de vários autores, teremos a oportunidade de vivenciar esses medos, entrar no universo do desconhecido e tentar explicar, através da realidade ou do sobrenatural, acontecimentos imprevisíveis e misteriosos.

O surreal

   De maneira geral, podemos definir surreal como aquilo que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo; em suma, como tudo aquilo que se encontra para além do real.

Literatura surrealista

   O grande nome da Literatura Surrealista é André Breton. Em 1924, ele publica em Paris o Manifesto do Surrealismo, em que define o espírito e os objetivos da nova vanguarda. Na literatura, a liberação do inconsciente deve ser alcançada com o auxílio da escrita automática. No manifesto, Breton “ensina” como usar o automatismo para fazer emergir o inconsciente:

Mande trazer com que escrever, quando já estiver colocado no lugar mais confortável possível para concentração do seu espírito sobre si mesmo. Ponha-se no estado mais passivo ou receptivo que puder. Pense que a literatura é um dos mais tristes caminhos que levam a tudo. Escreva depressa, sem assunto preconcebido, bastante depressa para não reprimir, e para fugir à tentação de se reler. A primeira frase vem por si, tanto é verdade que a cada segundo há uma frase estranha ao nosso pensamento consciente pedindo para ser exteriorizada.  

   O resultado deste processo é sempre um texto em que as relações lógicas não servem de apoio para o leitor, porque as imagens criadas não encontram equivalente no mundo conhecido. Privado das bases racionais de análise, não resta ao leitor outra saída a não ser entregar-se ao universo de sonho proposto pelo texto.
   O impulso de destruir os modelos clássicos de narrativa, de desafiar o gosto estabelecido e propor um olhar inovador para o mundo, isto é, um olhar que aponte a ruptura e a transformação: talvez seja este o grande legado dos surrealistas. Com suas propostas que fogem às convenções e tradições e que propõem desafios, eles libertaram a arte (a literatura) dos modelos que, durante séculos, dominaram o olhar dos artistas para a realidade.

Os autores da obra Histórias fantásticas se valem de tal conceito, mas, como sabemos, não estão necessariamente ligados ao Movimento Surrealista (alguns deles, inclusive, o precedem).  Mas tal movimento foi aqui tratado para apresentar e esclarecer o que vem a ser o surreal.