O
Gênero Épico
Origens e
características:
Todos
os povos têm suas narrativas e, apesar de haver uma variação na forma como elas
são organizadas e transmitidas, o fato é que contar histórias parece uma
atividade própria da natureza humana.
Durante
muitos séculos, a produção literária realizava-se predominantemente em versos,
sendo as histórias contadas por meio de poemas épicos ou epopeias.
As epopeias
são textos em versos nos quais são narrados fatos heroicos de cunho
nacionalista. As obras épicas consideradas mais importantes para a literatura
ocidental são A Ilíada e Odisseia, cuja autoria é atribuída a
Homero (séc. VIII) a.C. Um grande exemplo em língua portuguesa é Os Lusíadas, de Camões, obra que tem
como ação central a descoberta do caminho das Índias por Vasco da Gama,
permeada por vários episódios da história de Portugal, sempre glorificando o
povo português.
A
partir do final do séc. XVIII, com a criação do romance, a tarefa de
contar histórias passou a ser desempenhada por essa nova espécie, como também
pelo conto, pela novela, dentre outras. Devido a isso ocorre a
dupla denominação do gênero: épico, fazendo referência à origem
histórica; narrativo, referindo-se à evolução da criação literária.
As narrativas de ficção apresentam histórias
contadas a partir da invenção imaginativa do autor, que lança mão de elementos
como o enredo, o narrador, as personagens, o tempo
e o espaço. Nessas narrativas, predominantemente organizadas em prosa, é
o caráter do herói que o define, e não mais a glorificação pelas conquistas
pátrias, como acontecia nas epopeias.
Nesta
etapa estudaremos a espécie narrativa conto,
mais especificamente, o conto fantástico, levando em conta sua estrutura e
características, informações que nos servirão de base para a análise dos contos
da obra Histórias fantásticas, de vários autores.
O conto
O conto é uma espécie do gênero narrativo,
geralmente curta, cujo enredo gira em torno da solução de um conflito próximo
de seu desfecho, as personagens são apresentadas brevemente e vivenciam
situações decisivas. Não é a brevidade a marca principal de um conto, mas as
características que o definem como uma experiência singular, marcante, única.
Uma experiência que envolve de tal maneira o leitor, que ele pode perceber
claramente a abertura do pequeno para o grande, do individual para o universal,
sentindo a tensão, o perfeito equilíbrio entre as partes integrantes da
narração: a apresentação, o conflito, o clímax e o desfecho.
Apesar de ter se originado provavelmente por
volta de 4000 a.C
(contos mágicos ou contos egípcios - orais), foi no século XIV que o conto se
afirmou como uma categoria estética, passando da oralidade ao registro escrito.
O apogeu da espécie, contudo, ocorreu no século XIX, quando passou a ser
reconhecido como “nobre”, literariamente, e começou a ser largamente produzido.
Tem-se, então a origem do conto moderno, apresentando a estrutura que hoje o
caracteriza: uma narrativa geralmente curta que condensa e potencia todas as possibilidades
da ficção. Quanto aos temas, os contos são classificados em maravilhoso,
fantástico, de terror, mistério, ficção científica, policial, moderno,
contemporâneo, tradicional, dentre outros.
Dentre os mais importantes contistas
brasileiros estão: Machado de Assis, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca e Clarice
Lispector.
São características do conto:
•
Unidade de ação: uma só situação importante centraliza a narrativa e envolve as
personagens.
•
Unidade de tempo: a história se passa em curto período de tempo.
•
Unidade de espaço: o lugar por onde circulam as personagens é de âmbito
restrito.
•
Presença de poucas personagens.
•
Quanto à linguagem, há o predomínio da narração. O discurso das personagens
(discurso direto, indireto
e indireto livre) muitas vezes assume relevância. A descrição e a
dissertação tendem a anular-se.
O conto
fantástico
O
conto fantástico é aquele capaz de provocar o medo do desconhecido no leitor.
Este, durante a leitura, se vê envolvido num universo imaginário, povoado por
fantasias, terror, suspense e acontecimentos estranhos e sobrenaturais, sem, no
entanto, perder a noção da realidade. Segundo Tzevetan Todorov, a literatura
fantástica provoca, no espírito do leitor, uma dúvida insolúvel entre uma
explicação natural e outra sobrenatural para os estranhos fatos narrados.
Nesses
contos não são seguidas as convenções pré-estabelecidas do “final feliz”, das
“virtudes e recompensas” ou da “didática moral”, mas são apresentados e
interpretados os acontecimentos e sensações, independentemente de serem bons, atrativos
e estimulantes ou ruins, repulsivos e depressivos.
Sobre
a estrutura do conto fantástico, é fundamental que ele apresente uma exposição
sobre o tema e a construção de atmosferas bem elaboradas com a função de envolver
o leitor de um modo bastante singular e conduzi-lo ao clímax de forma
gradativa.
É
importante ressaltar que no conto fantástico é bastante evidenciado a relação
autor-obra-leitor, uma vez que não há uma interpretação incontestável do
enredo, cabendo ao leitor, a partir de seu diálogo com a obra, buscar uma
explicação para as histórias contadas, ou mesmo aceitar a ausência de uma
explicação plausível.
Na
obra histórias fantásticas, de vários autores, teremos a oportunidade de
vivenciar esses medos, entrar no universo do desconhecido e tentar explicar,
através da realidade ou do sobrenatural, acontecimentos imprevisíveis e
misteriosos.
O
surreal
De maneira geral, podemos definir surreal como aquilo que denota estranheza,
transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do
sonho, da imaginação, do absurdo; em suma, como tudo aquilo que se encontra
para além do real.
Literatura
surrealista
O
grande nome da Literatura Surrealista é André Breton. Em 1924, ele publica em
Paris o Manifesto do Surrealismo, em
que define o espírito e os objetivos da nova vanguarda. Na literatura, a
liberação do inconsciente deve ser alcançada com o auxílio da escrita automática. No manifesto,
Breton “ensina” como usar o automatismo para fazer emergir o inconsciente:
Mande trazer com que escrever, quando já estiver colocado
no lugar mais confortável possível para concentração do seu espírito sobre si
mesmo. Ponha-se no estado mais passivo ou receptivo que puder. Pense que a
literatura é um dos mais tristes caminhos que levam a tudo. Escreva depressa,
sem assunto preconcebido, bastante depressa para não reprimir, e para fugir à
tentação de se reler. A primeira frase vem por si, tanto é verdade que a cada
segundo há uma frase estranha ao nosso pensamento consciente pedindo para ser
exteriorizada.
O
resultado deste processo é sempre um texto em que as relações lógicas não
servem de apoio para o leitor, porque as imagens criadas não encontram
equivalente no mundo conhecido. Privado das bases racionais de análise, não
resta ao leitor outra saída a não ser entregar-se ao universo de sonho proposto
pelo texto.
O
impulso de destruir os modelos clássicos de narrativa, de desafiar o gosto
estabelecido e propor um olhar inovador para o mundo, isto é, um olhar que
aponte a ruptura e a transformação: talvez seja este o grande legado dos
surrealistas. Com suas propostas que fogem às convenções e tradições e que
propõem desafios, eles libertaram a arte (a literatura) dos modelos que,
durante séculos, dominaram o olhar dos artistas para a realidade.
Os autores da obra Histórias
fantásticas se valem de tal conceito, mas, como sabemos, não estão
necessariamente ligados ao Movimento Surrealista (alguns deles, inclusive, o
precedem). Mas tal movimento foi aqui
tratado para apresentar e esclarecer o que vem a ser o surreal.