sábado, 25 de fevereiro de 2012

Referencial teórico para os meus queridos dos nonos anos

Lindinhos e lindinhas,

Aqui vai o referencial teórico que prometi. Leiam e anotem as dúvidas para que possamos discuti-las em sala.



INTRODUÇÃO AO TEXTO LITERÁRIO


1 - O que é literatura?

Muitos foram os conceitos de literatura apresentados pelos teóricos ao longo do tempo. Na Grécia Antiga, por exemplo, Aristóteles postulou que a literatura É a arte que imita pela palavra”, ou seja, para esse filósofo a literatura é uma imitação da realidade, tendo a palavra como matéria prima.

Um outro conceito importante é o formulado por Afrânio Coutinho, já no séc. XX “A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através de uma língua para as formas que são os gêneros e com os quais ela toma corpo e nova realidade.”.

A esses conceitos devemos ainda adicionar a concepção de Moisés Massaud “Literatura é a expressão dos conteúdos da ficção ou da imaginação, por meio das palavras de sentido múltiplo e pessoal. Ou mais sucintamente: Literatura é ficção.”

Para melhor compreender as definições acima, devemos ter bem clara a diferença entre realidade e ficção.

Realidade é tudo aquilo que existe no mundo conhecido, que identificamos como concreto ou que reconhecemos como verdadeiro.

Já, a ficção relaciona-se à criação, à invenção, à fantasia, ao imaginário.

Analisando essas três definições, podemos observar que a Literatura é a arte da palavra e, como tal, recria a realidade, de forma ficcional, através dos múltiplos sentidos que as palavras podem apresentar. Os textos literários são organizados formalmente em gêneros (Épico, Lírico e Dramático), a partir de suas características e funções. Há textos que nos emocionam, outros que nos fazem refletir sobre a sociedade, há também aqueles que relatam grandes feitos heróicos, dentre outros exemplos.

É fundamental, porém, compreender que, apesar de na Antiguidade haver uma divisão rígida entre os gêneros, hoje é comum encontrarmos textos híbridos, ou seja, aqueles que apresentam características de mais de um gênero. Como exemplo, podemos citar a música Eduardo e Mônica, do grupo Legião Urbana, que através de versos narra a história de vida dos personagens título.

2 – Texto literário x texto não literário

Uma coisa é escrever como poeta, outra como historiador: o poeta pode contar ou cantar coisas não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja. (Miguel de Cervantes)

A afirmação de Cervantes a respeito do poeta pode ser estendida aos demais autores de textos literários: contistas, cronistas, romancistas, que têm a liberdade de utilizar a linguagem figurada (conotativa), dentre outros recursos. Já o jornalista, o pesquisador, o cientista devem escrever como o historiador, sempre representando a realidade, através da linguagem predominantemente denotativa. Apesar de manter relação com a realidade, o texto literário pode apresentar situações que fora da literatura seriam consideradas absurdas, como, por exemplo, a Morte contar uma história da qual é personagem, o que ocorre na obra A menina que roubava livros, de Markus Zusak.



3 – Conceitos fundamentais

As palavras não possuem um único sentido, ou seja, sua significação não é estática, mas relacionada ao contexto em que está inserida. As diferentes possibilidades de uso e compreensão das palavras é um dos mais importantes recursos presentes no texto literário.  Vejamos os exemplos:

TEXTO A)
O coração é um músculo que funciona como duas bombas unidas. Cada uma é dividida em dois compartimentos ligados por válvulas e as principais câmaras de bombeamento são os ventrículos.


TEXTO B)
Mundo Grande (fragmento)

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
                                                            (Carlos Drummond de Andrade)



DENOTAÇÃO: Ao lermos o texto A, percebemos que o vocábulo coração está sendo usado no seu sentido “real”, de acordo com a definição que possui no dicionário. O contexto não permite que o interpretemos de outra maneira. Dizemos, então, que ocorre denotação.



CONOTAÇÃO: Já, no texto B, a linguagem é conotativa, figurada, uma vez que à palavra coração é dado um sentido afetivo, abstrato, relacionado aos sentimentos, e não mais a ideia de um músculo que bombeia o sangue.

Obs.: Vale ressaltar que a conotação não ocorre apenas no texto literário. Ela pode estar presente também em textos publicitários, discursos políticos, piadas e freqüente na linguagem cotidiana.

PLURISSIGNIFICAÇÃO: Ocorre quando no texto literário as palavras assumem diferentes significações. Vejamos no texto abaixo, como a palavra bicho pode ter diferentes significados.

TEXTO C

 

O Bicho


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.



Observe o uso da linguagem nos textos abaixo:

TEXTO D

A queimada 

Num alvoroço de alegria, os homens viam amarelecer a folhagem que era a carne e fender-se os troncos firmes, eretos, que eram a ossatura do monstro. Mas o fogo avançava sobre eles, interrompendo-lhes o prazer. Surpresos, atônitos, repararam que a devastação tétrica lhes ameaçava a vida e era invencível pelo mato adentro, quase pelas terras alheias. (...) O aceiro foi sendo aberto até que o fogo se aproximou; a coluna, como um ser animado, avançava solene, sôfrega por saciar o apetite. Sobre a terra queimada na superfície, aquecida até o seio, continuava a queda dos galhos. O fogo não tardou a penetrar num pequeno taquaral. Ouviam-se sucessivas e medonhas descargas de um tiroteio, quando a taboca estalava nas chamas. O fumo crescia e subia no ar rubro, incendiado, os estampidos redobravam, as labaredas esguichavam, enquanto a fogueira circundava num abraço a moita de bambus. 

(Fragmento. Graça Aranha. Canaã, Rio de Janeiro,F.Briguiet, pp.111-113)



TEXTO E


Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

 É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                               Camões



TEXTO F
Bombeiros controlam incêndio em fábrica na Grande São Paulo

Fogo começou na parte térrea do sobrado e foi controlado após quase três horas do trabalho dos bombeiros


SÃO PAULO - Uma fábrica de cosméticos foi atingida por um incêndio na tarde desta quinta-feira, 9, no Jardim São Lázaro, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 14h40 e, às 17h45, as equipes trabalhavam no rescaldo do incêndio. Dez viaturas foram para o local, na Rua dos Ipês. O fogo começou na parte térrea do sobrado e foi controlado antes de se espalhar para outro andar ou imóveis vizinhos. Não houve feridos.
Fonte: estadão.com.br, 09/02/2012

Os textos D e E apresentam plurissignificação, com base na linguagem conotativa. Em D, o fogo apresenta características de um monstro e de um ser humano, em E o fogo faz referência à sensação provocada pelo amor. Já, no texto F, o mesmo vocábulo está no sentido denotativo, já que o objetivo da notícia é informar.

QUADRO COMPARATIVO ENTRE TEXTO LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO
TEXTO NÃO LITERÁRIO
TEXTO LITERÁRIO
Tem como principal função informar.
Predominantemente emotivo,  expressa sentimentos.
Busca expressar a realidade, ou o que o autor defende como tal.
Abre espaço para a ficção, recria a realidade.
É objetivo, as palavras são usadas no sentido real, do dicionário (denotação)
É subjetivo, utiliza vários recursos expressivos, como palavras no sentido figurado (conotação), ou com várias possibilidades de sentido (plurissignificação)
Tem intenção imediata, utilitária.
Tem intenção estética.
Usa uma linguagem impessoal.
Usa linguagem mais pessoal.

4 – Funções do texto literário:

·         Função estética: arte através da palavra e representação do belo.
·         Função lúdica: provoca satisfação, entretenimento.
·         Função cognitiva: leva ao conhecimento de uma realidade objetiva ou psicológica.
·         Função catártica: purificação dos sentimentos.
·         Função crítica: denúncia de questões sociais.
·         Função reflexiva: provoca a interrogação, a indagação.



5 – Relação autor – obra – leitor:

Sabemos que o autor transfigura, recria a realidade por meio da linguagem literária e a partir de sua maneira pessoal de analisar o mundo. Porém seu trabalho incorpora traços de seu momento histórico, uma vez que está inserido em um meio social e cultural. Através de seus textos o autor pode manifestar sua opinião acerca do mundo em que vive, criticar a sociedade e a política, tratar de temas do cotidiano, falar de sentimentos e muitos outros temas. Mas a obra completa seu sentido (ou seus sentidos) quando lida, pois nesse momento cruzam-se as experiências que geraram e suscitaram a criação da obra literária (as do artista) com as experiências, crenças e valores de vida e de leitura do receptor (leitor). Portanto é nessa interação que ocorre a leitura, isto é, não é na obra em si, nem na apreensão, propriamente dita, do receptor que realiza a leitura, mas no laço que se cria entre o dito e o lido. O reconhecimento da importância do leitor, no entanto, não significa que ele possa ressignificar o texto literário ao seu bel prazer, sua relação com a obra deve ser pautada nas pistas e nos jogos de palavras nela apresentados.








4 comentários:

  1. eh pra imprimir tudo isso de para casa o.O

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  2. Sim, sim. Isso jáfoi trabalhado em sala, mas é bom que tenha no caderno. Leia para tirarmos as dúvidas.

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  3. Caroool ! Nao intendi muito o ultimo item ( o 5 ) , é importante saber a relação das funçoes dos tres ou da sobre a funçao de cada um separadamente ?
    Obrigado , Mateus aqui do 9ano B , do Op

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  4. fessora aki eu to sem impressora aki , tem algum problema eu nao levar?

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